“Os bons não podem pagar por poucos ruins”. É assim que pensa o governador de Goiás, Marconi Perillo, um dos principais nomes do PSDB, sobre a iniciativa do partido, que ele desaprova, de assumir erros sem consulta às lideranças da sigla. A legenda divulgou um vídeo nesta semana em que admite ter errado, sem especificar quando, onde ou como. A resposta, provavelmente, estará no programa que será exibido na TV no próximo dia 17. “Quem eventualmente cometeu erros deve pedir desculpas. Não diria o partido como um todo.” Perillo, citado nas delações da Odebrecht e alvo de um inquérito sobre suposto favorecimento à JBS, diz que é obrigação do PSDB apoiar todas as investigações. “Mas não podemos aceitar que biografias sejam jogadas na lata de lixo sem que haja comprovação em relação aos crimes.”
Amigo há mais de 20 anos do prefeito de São Paulo, João Doria, ele fica em cima do muro ao tratar das opções do partido para a disputa presidencial em 2018 – além de Doria, há o governador Geraldo Alckmin. Segundo ele, caso não haja consenso, o remédio será realizar prévias. Perillo, que pode disputar a presidência da sigla em dezembro, defende que o PSDB siga no governo do presidente Michel Temer (PMDB) para apoiar a agenda de reformas.
Veja a entrevista concedida por Perillo a VEJA, em São Paulo:
A votação da denúncia contra o presidente Michel Temer deixou evidente que há um racha no partido, com 22 votos a favor do arquivamento e 21 contrários. Qual avaliação o senhor faz?
É preciso respeitar as opiniões de cada deputado. Um partido democrático como o PSDB precisa conviver – e sempre conviveu – com diferentes opiniões em relação a diversos temas. O PSDB foi o principal fiador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Além disso, também assumiu responsabilidades em relação ao país. Acertou com o presidente Temer uma agenda voltada para a retomada do crescimento econômico e para outras reformas. Esse foi o grande compromisso que o PSDB fez com a nação ao apoiar o governo de transição do presidente Temer. Todo esse contexto precisa ser analisado. No caso da denúncia, muitos do PSDB concluíram que era necessário continuar apoiando a agenda de reformas. Outros acharam que a iniciativa que requeria autorização para investigar o presidente era importante.
Onze dos votos pela admissibilidade da denúncia partiram de São Paulo. O que isso quer dizer?
Cada deputado votou de acordo com as suas consciências. São Paulo é um estado onde a pressão e a crítica são mais acentuadas, então imagino que vários foram os fatores que levaram a bancada paulista a ter esse comportamento. Eu respeito, não imagino o governador Geraldo Alckmin interferindo, assim como eu também não interferi em Goiás. Prevaleceu o respeito à atividade congressual e à liberdade dos deputados de fazerem escolhas.
Essas dissonâncias trazem consequências para o partido num momento em que se preza pela união em torno de um novo programa, de um candidato à Presidência…
O PSDB tem uma tradição de ter um debate vivo em relação a teses e ideias, mas sempre se manteve unido em todas as eleições para a diretoria e nas escolhas de candidatos à Presidência. Sempre tivemos mais de um candidato antes do processo das convenções, mas, ao chegarmos perto, sempre houve convergência em relação aos projetos e a quem concorreria. Nunca tivemos até aqui divisões sérias e que pudessem comprometer nossa unidade em relação aos processos eleitorais.
Houve nesta semana a veiculação pelo PSDB de um vídeo que trata de acertos da sigla, mas também admite erros, sem especificá-los. Quais foram?
O erro foi o fato de não termos sido consultados. Conversei com vários agentes do partido, governadores, ministros, senadores e prefeitos. Todos reclamaram que não foram ouvidos nem informados sobre o conteúdo do programa que foi ao ar. Há uma boa intenção, mas a forma foi equivocada. Um programa que deseja ser inovador, que deseja chocar, merecia a consulta de todas as pessoas que lideram o partido em Brasília e em diversos estados.
Mas o senhor acredita que o PSDB errou?
Todos os partidos acertam e erram. Na balança, o PSDB acertou muito mais do que os eventuais erros cometidos. Isso é algo muito evidente.
O que a população pode esperar do programa que será divulgado no dia 17?
Eu não posso dizer, porque não conheço o programa. Não vi e não fui consultado. Não será um programa desonesto, mas lamento não termos tido a oportunidade de discuti-lo.
Foi um erro de estratégia do senador Tasso Jereissati?
Quero evitar dizer se foi um erro ou não. Eu só quero lamentar que o conjunto do partido não foi chamado para participar desse tipo de discussão.
Muitas dos críticos ao PT dizem que falta ao partido fazer uma autocrítica por conta do seu envolvimento em corrupção. O senhor não acha que também falta essa autocrítica ao PSDB?
Essa autocrítica precisa ser iniciada dentro do partido, nas instâncias deliberativas, nos diretórios e em fóruns de discussão com a sociedade. O PSDB terá várias maneiras de discutir um novo programa, mas eu não sei se o PSDB deveria fazer esse tipo de programa e de autocrítica sem que houvesse um debate. De repente, esse tipo de programa poderia ter sido feito após uma discussão do partido, que seria gravada e poderia ser transformada num programa para ser levado à apreciação da opinião pública. O PSDB precisa, sim, fazer autocrítica. Já está fazendo e precisa intensificar isso, começando pela catarse interna.
O partido deve desculpas à sociedade?
Quem eventualmente cometeu erros, algum tipo de equívoco ou crime, deve pedir desculpas. Não diria o partido como um todo. Os bons não podem pagar por poucos ruins.
Causam constrangimento ao PSDB as articulações do senador Aécio Neves para recuperar o protagonismo que tinha antes do escândalo da JBS?
No estado democrático de direito, está esculpido na própria Constituição o direito ao contraditório e à ampla defesa. O presidente licenciado estará exercendo a sua defesa. Quem o acusa terá de provar se as acusações são verdadeiras ou falsas, se isso não foi uma armação para que determinados grupos empresariais pudessem se safar da Justiça. Em um caso recente, o de Furnas, a própria Polícia Federal disse que ele não tem qualquer tipo de envolvimento. O Aécio tem uma biografia e vai batalhar muito para preservá-la. É indiscutível que ele foi um bom governador de Minas e que tem um passado que precisa ser considerado.
O senhor considera acertada a decisão dele de seguir licenciado da presidência do partido?
Acho que sim. Aécio achou por bem se defender se licenciando do partido. Tasso Jereissati, segundo o acordo, ficará até o fim do ano, quando haverá uma eleição. Defendo que o calendário seja cumprido e que as eleições sejam realizadas em abril ou maio de 2018, mas, se essa é a decisão da Executiva, eu concordo e acho que o PSDB está em boas mãos.
Houve movimentação para que o senhor se candidatasse à presidência do partido. Tem essa pretensão?
Seria impossível compatibilizar o exercício da função de governador com as múltiplas agendas de presidente de um partido com a envergadura do PSDB. O presidente terá enorme responsabilidade tanto em relação às prévias que definirão o candidato a presidente da República quanto com a mobilização do partido em torno de um novo programa, principalmente no que diz respeito à eleição do ano que vem. O PSDB terá de apresentar um bom projeto para o país, que deverá ser elaborado internamente, escutando todos os segmentos do partido e as vozes da sociedade. Teremos que dialogar e ouvir muito.
Se o senhor se candidatar a algo em 2018, terá de deixar o governo até abril. Se a disputa para a presidência do partido for em dezembro, dá para viabilizar sua candidatura?
Teria um pouco mais de tranquilidade, na medida em que não teria a agenda tão intensa, como é a de um governador. Ainda não me defini com relação ao futuro ou a eventuais candidaturas. Vou deixar mais para frente.