Ngapeth destrói o sonho do deca, França bate o Brasil e é campeã da Liga Mundial

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roteiro parecia montado à perfeição. Na história que a seleção brasileira queria contar, a Arena da Baixada aparecia como cenário ideal. No início, nem mesmo o frio de 12°C incomodava. Earvin Ngapeth, porém, não teve medo de vestir a máscara de vilão. Ao sorrir de forma irônica e olhar para o telão a cada ponto, se mostrou à vontade em terreno rival. Aos poucos, o sonho do décimo título da Liga Mundial se dissipou nos ataques do ponteiro francês. De virada e diante de mais de 23 mil pessoas, o Brasil caiu para a França em 3 sets a 2, parciais 21/25, 25/15, 25/23, 19/25 e 15/13.

Ngapeth destruiu as chances do título brasileiro. O polêmico atacante francês fez jus à marra: terminou o jogo com 29 pontos. Boyer, jovem promessa de 21 anos, fez 18. Pelo Brasil, Lucarelli e Wallace fecharam a partida com 22 pontos. Mais cedo, o Canadá bateu os Estados Unidos de virada (3 a 1) e conquistou o bronze – sua primeira medalha na história da Liga Mundial.

O jejum, então, continua. Sem vencer a Liga Mundial desde 2010, o Brasil volta a bater na trave, como acontecera no ano passado, diante da Sérvia. A seleção, no entanto, segue como maior vencedora, com nove títulos: 1993, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010. A França, por outro lado, se confirma como algoz do Brasil na casa do rival. Em 2015, em seu único título até então, foi campeã no Rio de Janeiro.

Em sua primeira competição à frente do Brasil, Renan Dal Zotto ficou no quase. O técnico, que assumiu a seleção após a despedida de Bernardinho, fez a seleção crescer no decorrer da Liga, mas ficou com o vice.

Quando a bola de Wallace explodiu no chão rival, a torcida logo mostrou sua força. Foi assim também nas vaias contra Ngapeth, o astro da França. Os rivais, porém, se fizeram de surdos. Conseguiram tomar à frente justamente em um ponto de seu principal jogador. Era um jogo tenso, como havia de ser. O Brasil estava bem, porém, e, impulsionado pelas arquibancadas, abriu 17/14 em ataque de Wallace, explorando o bloqueio.

A França lutava. Ngapeth e Boyer fugiam do bloqueio e davam trabalho à defesa brasileira. Mas também erravam muito. Em novo saque para fora, deu mais um ponto de graça para os donos da casa, que abriram 20/17. O ritmo foi mantido até o fim, mas o Brasil precisou de duas chances para fechar o set. Na primeira tentativa, no ataque de Maurício Borges, a bola bateu na câmera que filmava a partida. O ponto voltou, mas, logo depois, foi Maurício Souza quem fechou a conta: 25/21.

Maurício Souza errou o saque na volta à quadra. Lucão, porém, subiu alto e atacou rápido para marcar o primeiro ponto do time. Ngapeth, então, resolveu aparecer. Primeiro, bloqueou Maurício Borges e fez cara feia. Logo depois, subiu sozinho no meio para marcar mais um ponto. Ali, a França já tinha 5/1, e Renan resolveu parar o jogo. A seleção demorou um pouco, mas conseguiu encostar. Wallace marcou o primeiro ace do jogo e diminuiu a diferença para apenas dois pontos: 8/6.

A França, porém, voltou a disparar. Maurício Borges ficou no bloqueio, e os rivais abriram 12/7. Renan, então, parou a partida mais uma vez e tentou arrumar a casa. Não funcionou. O momento era todo dos europeus, que abriram 20/12. O técnico brasileiro tentou a última cartada para se manter vivo na parcial e mandou Renan Buiatti e Rapha para a quadra na inversão 5×1. A mudança esteve longe de funcionar. Com autoridade, a França fechou em 25/15 e empatou o jogo.

O grandalhão Kevin Le Roux soltou o braço e sacou para marcar o primeiro ponto do terceiro set. Maurício Borges, em uma pancada, e Lucão, no bloqueio, colocaram o Brasil à frente. A França manteve o ritmo da parcial anterior, e o Brasil tentou acompanhar. O time, porém, errava bolas fáceis, como no contra-ataque para fora de Lucarelli. Quando o placar marcava 7/4 para os rivais, Renan parou o jogo.

Na volta, Wallace fez a bola explodir no rosto de Chinenyeze. Mas, talvez impulsionado pelas vaias, Ngapeth fazia estragos. Em novo ataque do ponteiro, a França abriu 11/6. Na marra, o Brasil cresceu e conseguiu voltar ao jogo. Quando a diferença caiu para dois pontos (13/11), Laurent Tillie parou o jogo.

A França voltou a disparar. Àquela altura, o momento não era dos melhores. Com muitos erros, a seleção dava espaço para o ataque rival. Na vibração de Wallace, porém, a equipe da casa voltou a encostar e chegou ao empate em ataque do oposto: (20/20). Mais do que nunca, a torcida fez a Arena tremer. Wallace, mais uma vez, atacou e fez a seleção tomar a frente em 21/20. A tensão, no entanto, quase dava para ser sentida em quadra. Apesar de toda a luta, a França fechou o set justamente com um bloqueio sobre o oposto do brasileiro: 25/23.

Era hora de apagar o que havia sido feito até ali e começar de novo. Renan manteve Éder em quadra e colocou Tiago Brendle no lugar de Thales. O central correspondeu e, sozinho, bloqueou Boyer, fazendo o Brasil abrir 7/3. A França, no entanto, ainda estava no jogo e fez a diferença cair para dois pontos. Renan pediu tempo e tentou esfriar a reação rival. Ainda que tenha se mantido na luta, os franceses não conseguiram tirar a diferença. Com 25/19, o Brasil respirou e forçou o tie-break.

Lucarelli voou e abriu a contagem no set decisivo. Maurício Borges, na sequência, ampliou a vantagem. O Brasil tentou afastar a tensão na marra – e de forma rápida. A França resistia e tentava evitar ficar para trás. Depois de os donos da casa abrirem três pontos, os visitantes chegaram ao empate com um bloqueio sobre Maurício Borges: 7/7. O roteiro voltou a se repetir logo depois: o Brasil abriu, e a França empatou em lance improvável, com uma defesa indo direto para o fundo da quadra dos donos da casa. De quem? Ngapeth, claro. O lance pareceu desanimar a torcida. Logo depois, a França virou e fez 12/11. O Brasil ainda sonhou com a reação. Não deu. O ponto final veio das mãos do maior vilão: Ngapeth fechou a conta em 15/13.