Depois do choque da delação da JBS em meados de maio, tem sido difícil estressar o mercado financeiro. Na terça-feira, o dólar fechou em queda pelo terceiro dia consecutivo, de 0,19%, cotado a R$ 3,25, e o Ibovespa avançou 1,28%, para 63.838 pontos, mesmo depois do apagão no Senado que barrou, temporariamente, a votação da reforma trabalhista e das investidas do presidente Michel Temer para mudar a composição da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e evitar que os deputados aprovem a abertura de investigação contra ele
A reação condescendente do mercado com os últimos acontecimentos da política, para alguns economistas, reflete o que parece ser uma “torcida” pelo bom momento da agenda econômica. Para outros, um sintoma de que os investidores se preocupam mais com a composição do Ministério da Fazenda e do Banco Central do que com quem ocupa a cadeira de presidente.
Às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o cenário era bastante diferente, lembra Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Em janeiro de 2016, os Credit Default Swaps (CDS) – uma espécie de seguro contra calote de dívida, que funciona como termômetro da percepção de risco dos investidores – chegou a 505 pontos. Nos últimos dias, mesmo com toda a turbulência, ele se mantém abaixo dos 250 pontos
Uma diferença fundamental em relação a um ano atrás, para ela, é a “economia mais ajustada” que o Brasil tem hoje, com famílias e empresas menos endividadas e inflação e juros em queda, além da ajuda vinda do cenário internacional, com preço favorável de commodities e juros modestos.
Com as taxas ainda baixas em mercados maduros como União Europeia e Estados Unidos, os investidores têm maior apetite por risco e olham mais para mercados emergentes como o Brasil. Com mais dólares no mercado, a tendência é que o real fique mais valorizado e a moeda americana, mais barata.