A relação de Dilma com João Santana era diferente, frisou Mônica, já que a petista tinha confiança na capacidade do marqueteiro de “pensar”. Além de dar conselhos à então presidente, João elaborava discursos em rede nacional de rádio e televisão – um palanque eletrônico usado com frequência para anunciar medidas de impacto – e batizava programas do governo petista. “Ela recorria a ele sempre”, afirmou Mônica.
Segundo a empresária, o casal não cobrava pelo trabalho nos pronunciamentos, apenas repassando para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República os custos de produção com a equipe, luz e câmera. A logomarca criada por João Santana ao governo Dilma foi um “presente”.
Sobre a primeira campanha de Dilma à Presidência, em 2010, a empresária reconheceu que foi uma eleição “dificílima”, já que todo mundo apostava na derrota da petista. “Era impossível, um poste realmente pra eleger”, admitiu.
De acordo com a delatora, João Santana era tão influente no governo que Mangabeira Unger, na época ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, recorria ao marqueteiro para conseguir uma agenda com Dilma Rousseff durante o segundo mandato.
‘Pátria educadora’. Na época, Mangabeira estava cuidando do programa “Pátria Educadora”, mote da segunda gestão de Dilma, e se envolveu nos bastidores numa disputa de protagonismo político com o Planalto e o então ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro.
“O Mangabeira chegava ao ponto de pedir ao João que conseguisse que a Dilma recebesse ele. E a Dilma, ‘Eca’, ‘Ai que saco’, ‘Ele é chato, eu não quero’, ‘Eu não guento’”, relatou a delatora.
Os problemas de Mangabeira se agravaram quando ele decidiu incluir no programa uma proposta de diretrizes curriculares para a Base Nacional Comum da Educação, que define o que se espera que alunos aprendam em cada etapa da educação básica. “Autoritário” e “megalomaníaco” foram alguns dos adjetivos usados pela cúpula palaciana para descrever a atuação de Mangabeira à frente da pasta.
Isolado do governo, Mangabeira acabou entregando a sua carta de demissão em setembro de 2015. Procurada pela reportagem, a assessoria de Dilma disse que não se pronunciaria.