Depois que o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), apareceu como o tucano com melhor desempenho para a eleição presidencial de 2018, começaram a pipocar no país iniciativas para homenageá-lo com títulos de cidadão. A primeira aconteceu na última sexta-feira, em Florianópolis, onde ele recebeu pessoalmente a honraria. Já há homenagens do mesmo tipo propostas em Salvador (BA) e Campina Grande (PB).
Doria tem encarado essas iniciativas como uma oportunidade de ganhar visibilidade e se tornar conhecido para além das fronteiras de São Paulo, algo primordial para uma candidatura à Presidência da República. Os convites têm partido de amigos ou políticos interessados em surfar na popularidade do prefeito.
Em Florianópolis, a concessão do título de cidadão catarinense teve por trás um parceiro de negócios de Doria — o representante do Grupo Lide, fundado pelo prefeito paulistano, em Santa Catarina, Wilfredo Gomes. Ao fim do discurso do prefeito, ele puxou gritos de “Brasil urgente, Doria presidente”. A honraria foi concedida pela Federação das Indústrias de Santa Catarina.
Na Bahia, a proposta de entregar a Doria um título de cidadão baiano partiu de um deputado estadual do PSDB. Adolfo Viana protocolou anteontem na Assembleia Legislativa o projeto e apontou a influência e o currículo do prefeito tucano como justificativa para a homenagem.
Na semana anterior, foi a vez de Campina Grande, na Paraíba, administrada pelo PSDB, anunciar que homenageará o prefeito. A iniciativa foi de João Dantas, vereador do PSD. O prefeito da cidade paraibana, Romero Rodrigues, esteve no gabinete de João Doria na semana passada.
Ainda não há datas definidas para as duas homenagens, mas aliados de Doria avaliam que o prefeito não tem nada a perder com essas visitas.
Títulos de cidadão foram criados para a homenagear pessoas por serviços prestados a uma cidade ou estado. Entretanto, tem sido comum o uso desse expediente para outra finalidade: dar visibilidade a políticos.
Anteontem, Doria destinou cerca de quatro horas em sua agenda de trabalho para receber a homenagem em Santa Catarina, terra da sua mulher, Bia. Na visita, o prefeito seguiu roteiro típico de candidato. Ele se encontrou com lideranças políticas locais e empresários, fez palestra e deu entrevistas a jornais regionais.
Em seu discurso, Doria repetiu que não é candidato a presidente da República, que apoia Alckmin, seu padrinho político nas eleições de 2016. A plateia lamentou, mas aplaudiu quando o tucano engatou seu repertório de críticas ao PT.
O prefeito é hoje o tucano mais bem colocado para a eleição à Presidência da República em 2018. Pesquisa Datafolha divulgada há uma semana mostrou que outros pré-candidatos do PSDB, como o senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, perderam, nos últimos meses, intenção de voto provavelmente por causa de citações na Lava-Jato. Foi a primeira vez que Doria entrou numa sondagem para a eleição presidencial. Enquanto Aécio teve 8% das intenções de voto e Alckmin, 6%, ele alcançou 11%, mas ainda assim perderia para Lula num eventual segundo turno.
Um movimento em favor de uma candidatura de Doria a presidente começou a ganhar espaço no PSDB em março. Nas redes sociais, ele é propagado pelo Movimento Brasil Livre (MBL).
Tucanos admitem força
As principais lideranças do PSDB, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique, já admitem em conversas reservadas que não há como conter esse fenômeno e que é preciso agora aguardar o fim do ano para ver se Doria continuará sendo o tucano mais competitivo.
O prefeito e seus aliados sabem que, para se tornar um candidato viável em 2018, é preciso fazer com que a popularidade ultrapasse as fronteiras paulistas. O Nordeste continua sendo um território de difícil entrada para os tucanos e fundamental para uma campanha bem-sucedida. Apesar de todo o desgaste sofrido na Operação Lava-Jato, o PT continua tendo a região como reduto eleitoral.