Por O Sudeste
Pode-se sugerir, a rigor, que Paulo do Vale (prefeito de Rio Verde, do Democratas), Ernesto Roller (secretário de Governo), Adib Elias (prefeito de Catalão, do Podemos) e Renato de Castro (ex-prefeito de Goianésia) formam um grupo político e vão “jogar” juntos na disputa eleitoral de 2022?
Primeiro, é preciso ressaltar: os quatro políticos têm valor e merecem respeito de seus aliados. Paulo do Vale foi reeleito e é uma das principais lideranças políticas do Sudoeste goiano — dadas sua competência administrativa e sua capacidade de articulação política. Adib Elias foi reeleito e é o nome mais poderoso da política do Sudeste de Goiás. Renato de Castro lançou um candidato a prefeito anódino e venceu uma aliança política consistente entre o PSDB de Otavinho Lage e Jalles Fontoura e o MDB de Daniel Vilela. Saiu muito maior da eleição de 2020. Ernesto Roller é articulador político do governo de Ronaldo Caiado e contribuiu para a reeleição do prefeito de Formosa, Gustavo Marques (Podemos).
Segundo, os quatro políticos se respeitam e apreciam se ouvir, mas não pensam da mesma maneira. Ernesto Roller é aliado de Ronaldo Caiado, trabalha como secretário de seu governo e, por fim, são parentes. Em nenhuma hipótese deixaria de apoiar o gestor estadual para embarcar na aventura do trio Gustavo Mendanha-Marconi Perillo e Sandro Mendez (conhecido como Sandro Mabel, dono da Pimentas Mendez). Portanto, não deve ser apontado como companheiro de jornada de quem quer romper com o governador.
O médico Paulo do Vale é ligado a Ronaldo Caiado e se respeitam. Também não romperá com o governador se este colocar o presidente do MDB na sua vice, na disputa de 2022. O prefeito é pragmático e sabe que é preciso ampliar alianças com a atração de forças políticas novas. O próprio prefeito se aliou ao presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSB, de saída), em 2020, na disputa da reeleição. Política, ele sabe, não é um espaço adequado para “teimosos” e “amadores”. Ganha-se eleição, de maneira continuada, aquele político que sabe ampliar sua base eleitoral.
Renato de Castro recebeu apoio decisivo de Ronaldo Caiado ao bancar Leozão Silva Menezes para prefeito de Goianésia. No momento, é presidente da Codego, nomeado pelo governador, que admira seu trabalho técnico de grande eficiência e retidão. Independentemente da nova aliança de Ronaldo Caiado, tende a ficar ao seu lado. Afinal, se reeleito, ele será o governador.
Adib Elias
Finalmente, Adib Elias. Trata-se de um caso à parte. Adib Elias e Ronaldo Caiado são amigos, são médicos, estudaram no Rio de Janeiro e se admiram e se respeitam. Apesar dos rompantes, dada sua franqueza habitual, Adib Elias é um político leal e não romperá com o governador. Ele não caminhará, em 2022, ao lado de Marconi Perillo, Sandro Mendez e Gustavo Mendanha.
Apesar da insatisfação com a possibilidade de Daniel Vilela (que errou ao proceder a um expurgo de emedebistas que apoiaram Ronaldo Caiado em 2018) ocupar a vice de Ronaldo Caiado, em 2022, dificilmente Adib Elias deixará de apoiar o governador. O mais provável é que, aparadas as arestas — ainda que não seja possível inteiramente —, Adib Elias se prontifique, a partir de determinado momento, a coordenar a campanha no Estado ou ao menos no Sudeste goiano. Há, inclusive, a possibilidade de o prefeito disputar mandato de senador em 2026.
Finalmente, deve-se registrar que Ronaldo Caiado não é um político-administrador a ser tratado de maneira tradicional. Primeiro, não teme “ameaças”, “pressões” e “cara feia” de nenhuma ordem. Quando se posiciona em relação a um projeto, o que pede aos seus liderados é que o sigam. Ele é um líder. Segundo, por ser um político realista e pragmático, sabe que, mais do que agradar “A” ou “B”, o fundamental é ganhar a eleição. Portanto, é preciso ampliar as alianças político-eleitores, trabalhando para reduzir a força dos adversários. Por isso, uma aliança com o MDB de Daniel Vilela é uma maneira de ganhar de maneira mais fácil a disputa de 2022 — talvez liquidando a fatura já no primeiro turno.
Mesmo que Gustavo Mendanha seja candidato, a tendência é que Ronaldo Caiado seja reeleito no primeiro turno. Porque o MDB não acompanhará o prefeito de Aparecida de Goiânia, que terá de se contentar com o apoio de Marconi Perillo e Sandro Mabel Mendez. Noutras palavras, além do exército eleitoral que já tinha, formatado na disputa de 2018, o governador passará a contar com a estrutura do MDB em todo o Estado. Em cada um dos 246 municípios de Goiás o MDB tem uma célula política, geralmente com forte presença, como em Jataí (prefeito Humberto Machado), Rio Verde (Manuel Cearense e Osvaldo Fonseca), em Mineiros (prefeito Aleomar Mendes e o ex-governador Agenor Rezende), Porangatu (Márcio Luis da Silva), Anápolis (Márcio Corrêa), Valparaíso (prefeito Pábio Mossoró). Dos 28 prefeitos do MDB, 27 já se declararam favoráveis à aliança entre Daniel Vilela e Ronaldo Caiado. Só um resiste — Gustavo Mendanha, de Aparecida de Goiânia, paradoxalmente, em tese o político mais ligado ao presidente do partido.
O que Caiado está fazendo, fale insistir, é conquistando novos aliados, ampliando sua base político-eleitoral. Políticos como Daniel Vilela e o presidente da Assembleia Legislativa, Lissaeur Vieira, do PSB, contam muito. E, numa base política tão ampla, não há como exigir que todos pensem da mesma maneira. Porém, na disputa eleitoral, todos têm de ter em vista que o importante — o que vale mesmo — é ser eleito. “Zangas” não levam a nada.
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