Pesquisa do Real Big Data sugere que Caiado pode ser reeleito no 1º turno

0
153
Foto-Vinícius-Schimidt

O Sudeste

A pesquisa de intenção de voto do instituto Real Time Big Data/TV Record, divulgada na quinta-feira, 17, contém informações que precisam ser destrinchadas pelo jornalismo realmente analítico. Não que, no geral, os levantamentos contenham equívocos, e sim que os números podem ser interpretados de maneira mais abrangente. Não para forçá-los a dizer mais do que dizem, mas, sobretudo, para deixar claro o que estão sugerindo. Números são menos “frios” do que parecem.

Primeiro, os 43% do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) podem, sim, sugerir uma vitória no primeiro turno, considerando, é claro, que este é o quadro do momento. A sete meses das eleições, a estabilidade do gestor estadual, acima dos 40%, significa força (consistência) político-eleitoral. Significa que vem mantendo um eleitorado fiel e intocável. Mesmo com a entrada de Marconi Perillo — que foi quatro vezes governador de Goiás — no jogo, os dados sugerem que a vitória no primeiro turno é uma possibilidade.

2

Segundo, as oposições comemoram o fato de Perillo ter aparecido com 22% e o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido), ter obtido 20%. O “argumento” fácil, mas falacioso, é o de sempre: somar 22 + 20 — 42%. Ou seja, 1% atrás de Ronaldo Caiado. Mas quem lida com pesquisa a sério sabe que intenções de voto de candidatos não devem ser somadas de maneira mecânica. Quem garante que, se Perillo sair do páreo, para bancar Mendanha — ele poderia ir a senador —, seus votos serão transferidos, de maneira automática, para o prefeito? E não há condições de assegurar que os eleitores de Mendanha migrariam para Perillo.

Veja-se o caso de um dos cenários da pesquisa estimulada do Real Time Big Data: retirado o nome de Perillo, Mendanha fica com 19%, seguido de Vanderlan Cardoso, com 10%, e Wolmir Amado (PT), com 9%. Ronaldo Caiado aparece com 39%. Noutras palavras, os votos “de” Perillo não migraram para o prefeito de Aparecida.

O fato é que muitos dos eleitores de Mendanha poderão migrar para aliança política de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela (MDB). O eleitorado de Perillo seria mais “oposicionista”? Não dá para saber, sem uma pesquisa detida. Mas é possível que parte dele, quiçá por considerar o prefeito de Aparecida inexperiente, pode migrar para as hostes governistas, se Perillo não for candidato.

3

Terceiro, percebe-se que a “presença” de Perillo em segundo lugar sinaliza que Mendanha (frise-se que há um empate técnico) não está empolgando o eleitorado. Pelo contrário, está sendo visto como um candidato “pior” do que o tucano. Por quê? Talvez falta de pegada, de experiência. Até aliados o veem como meio anódino, uma presença-ausência.

O fato de não polarizar com Ronaldo Caiado, aparecendo em terceiro lugar, sugere que Mendanha não pegou. Não há expectativa de poder em relação ao prefeito. Então, o discurso que o ex-emedebista levava para o interior — talvez com pesquisas incorretas — está sendo refutado pelos fatos, quer dizer, pelas pesquisas de fato sérias.

Quanto a Perillo, a rejeição ainda alta impõe um teto às suas pretensões. Como ele tem mais desgaste — inclusive uma prisão pela Polícia Federal, autorizada pela Justiça Federal — do que o governador, é provável que, na campanha, se desidrate. A lembrança de sua história pode ser “negativa” ou “positiva” — dependendo de como será apresentada. No país, grandes obras têm sido sinônimo de corrupções gigantes. O ex-governador terá de enfrentar, não apenas Ronaldo Caiado, mas também sua própria história.

4

Quarto, há um equívoco na pesquisa: o que justifica colocar dois candidatos do mesmo partido, Ronaldo Caiado e o deputado federal Delegado Waldir Soares, ambos do União Brasil? Para piorar, Delegado Waldir nunca disse que será candidato a governador. Ele frisa, em todas as entrevistas — e é impossível que pesquisadores conscienciosos não saibam disso —, que será candidato a senador, e não a governador.

5

Quinto, numa variante da pesquisa, Ronaldo Caiado aparece com 40%, Perillo tem 19%, Mendanha aparece com 18% (o que caracteriza empate técnico) e o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, tem 10%.

Por que Vanderlan Cardoso é apresentado como candidato se o PSD definiu que o ex-ministro Henrique Meirelles será o seu nome na chapa majoritária na eleição deste ano? O senador teria informado ao instituto que poderá ser candidato? Não se sabe. Como o PSD vai apoiar a reeleição de Ronaldo Caiado, assim que for confirmada a indicação de Meirelles na chapa como postulante ao Senado, a tendência é que Vanderlan suba no palanque do governador. Assim como o presidente regional do PSD, ex-deputado federal Vilmar Rocha, e o deputado federal Francisco Júnior, também do PSD.

Àqueles que apreciam somar percentagens, vale lembrar, então, que, juntos, Ronaldo Caiado e Vanderlan têm 50% das intenções de voto.

Por fim, há um dado considerável, porém pouco lembrado: no levantamento espontâneo, Ronaldo Caiado aparece com 24% das intenções de voto. O segundo, bem distante, é Perillo — com 6%. Mendanha aparece com irrisórios 4% — mais uma vez atrás do postulante do PSDB (sendo assim, como conseguirá convencer o tucano a apoiá-lo para governador?). A petista Adriana Accorsi, que vai disputar mandato de deputada federal, tem 2% — a rigor, está empatada com Mendanha. Vanderlan e Delegado Waldir têm 1%.

Conclusão

Como sabem políticos, pesquisadores e cientistas políticos, pesquisas são retratos do momento — e, ao contrário do que os incautos pensam, são importantes, inclusive porque contribuem para definir ou redefinir táticas e estratégias de campanha (ou pré-campanha).

O quadro atual é tremendamente favorável ao governador Ronaldo Caiado, que tem mais de 40% das intenções de voto. Ao mesmo tempo, nenhum de seus adversários chega a ter 25% das intenções de voto. Portanto, a persistir o quadro atual, há mesmo a possibilidade de o governador ser reeleito no primeiro turno.

Há também o fato de que, com a definição da chapa majoritária, com a inclusão do PSD em definitivo nas hostes governistas, a tendência é que o candidato a governador fique ainda mais forte (vale sublinhar que o MDB de Daniel Vilela, que será vice de Ronaldo Caiado, tem uma força considerável em todo o Estado). Quer dizer, há elementos para fortalecer a chapa governista. Mas não há elementos para robustecer a chapa (ou chapas) oposicionista. Por exemplo: o apoio de Perillo a Mendanha pode afastar eleitores que planejam votar no prefeito. Uma aliança entre os dois pode ser considerada pelos votantes como eleitoreira. Perillo pode ser visto como o Centrão do político de Aparecida de Goiânia.

Jornal Opção